22 de maio de 2009

Cidade sem carro

Comunidade alemã decide ter uma vida sem automóveis e vira referência

Do UOL Notícias (http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/05/12/ult574u9344.jhtm)

Elisabeth Rosenthal
Em Vauban (Alemanha)

Os moradores desta comunidade afluente são pioneiros suburbanos. Eles superaram a maioria das mães que levam os filhos para jogar futebol ou executivos que fazem todos os dias o trajeto dos subúrbios até o centro da cidade: essas pessoas abriram mão dos seus carros.

Estacionamentos de rua, driveways (pequena estrada que vai geralmente da entrada da garagem até a rua) e garagens são, em geral, proibidas neste novo distrito experimental na periferia de Freiburg, perto da fronteira com a Suíça.

Nas ruas de Vauban os carros estão totalmente ausentes - com exceção da rua principal, por onde passa o bonde para o centro de Freiburg, e de umas poucas ruas na zona limítrofe da comunidade. A propriedade de automóveis é permitida, mas só há dois locais para estacionamento - grandes garagens localizadas no limite da comunidade, onde os proprietários compram uma vaga, por US$ 40 mil, juntamente com uma casa.

Como resultado, 70% das famílias de Vauban não têm automóveis, e 57% venderam o carro para se mudarem para cá.

"Quando eu tinha carro, estava sempre tensa. Desta forma sou muito mais feliz", afirma Heidrun Walter, profissional de mídia e mãe de dois filhos, enquanto caminha pelas ruas cercadas de verde, onde o ruído das bicicletas e a conversa das crianças que passeiam abafam o barulho ocasional de um motor distante.

Vauban, que foi concluída em 2006, é um exemplo de uma tendência crescente na Europa, nos Estados Unidos e em outros locais. Trata-se da separação entre a vida suburbana e a utilização de automóveis, como parte integrante de um movimento chamado de "planejamento inteligente".

Os automóveis são um fator de coesão dos subúrbios, onde as famílias de classe média de Chicago a Xangai costumam construir as suas residências. E, isso, segundo os especialistas, consiste em um grande obstáculo para os atuais esforços no sentido de reduzir drasticamente as emissões de gases causadores do efeito estufa que saem pelos canos de descarga, com o objetivo de reduzir o aquecimento global. Os carros de passageiros são responsáveis por 12% das emissões de gases causadores do efeito estufa na Europa - uma proporção que só está aumentando, segundo a Agência Ambiental Europeia -, e por até 50% em algumas áreas dos Estados Unidos.

Embora nas duas últimas décadas tenha havido tentativas de tornar as cidades mais densas e mais propícias para as caminhadas, os planejadores urbanos estão levando agora esse conceito para os subúrbios e concentrando-se especificamente em benefícios ambientais como a redução de emissões. Vauban, que tem 5,500 habitantes e uma área aproximada de 2,6 quilômetros quadrados, pode ser a experiência mais avançada em vida suburbana com baixa utilização de automóveis. Mas os seus preceitos básicos estão sendo adotados em todo o mundo em tentativas de tornar os subúrbios mais compactos e mais acessíveis ao transporte público, com menos espaço para estacionamento. Segundo essa nova abordagem, os estabelecimentos comerciais situam-se ao longo de calçadões, ou em uma rua principal, e não em shopping centers à beira de uma auto-estrada distante.

"Todo o nosso desenvolvimento desde a Segunda Guerra Mundial esteve concentrado no automóvel, e isso terá que mudar", afirma David Goldberg, funcionário da Transportation for America, uma coalizão de centenas de grupos nos Estados Unidos - incluindo instituições ambientais, prefeituras e a Associação Americana de Aposentados - que estão promovendo novas comunidades que sejam menos dependentes dos carros. Goldberg acrescenta: "A quantidade de tempo que se passa ao volante de um carro é tão importante quanto possuir um automóvel híbrido".

Levittown e Scarsdale, subúrbios de Nova York com casas de áreas enormes e garagens privadas, eram os bairros dos sonhos na década de 1950, e ainda atraem muita gente. Mas alguns novos subúrbios podem muito bem lembrar mais Vauban, não só nos países desenvolvidos, mas também no mundo subdesenvolvido, onde as emissões da frota cada vez maior de carros particulares da crescente classe média estão sufocando as cidades.

Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental está promovendo as "comunidades com número reduzido de carros", e os legisladores estão começando a agir, apesar de que com cautela. Muitos especialistas acreditam que o transporte público que atende aos subúrbios desempenhará um papel bem maior em uma nova lei federal de transporte aprovada neste ano, afirma Goldberg. Nas legislações anteriores, 80% das apropriações destinavam-se, por lei, a auto-estradas, e apenas 20% a outras formas de transporte.

Na Califórnia, a Associação de Planejamento da Área de Hayward está desenvolvendo uma comunidade semelhante a Vauban chamada Quarry Village, nos arredores de Oakland. Os seus moradores podem ter acesso sem carro ao sistema de trânsito rápido da Área da Baía e ao campus da Universidade Estadual da Califórnia em Hayward.

Sherman Lewis, professor emérito da universidade e líder da associação, diz que "mal pode esperar para mudar-se" para a comunidade, e espera que Quarry Village possibilite que ele venda um dos dois automóveis da família e, quem sabe, até mesmo os dois. Mas o atual sistema ainda conspira contra o projeto, diz ele, observando que os bancos imobiliários temem uma queda do valor de revenda de casas de meio milhão de dólar que não têm lugar para carros. Além disso, a maior parte das leis de zoneamento urbano dos Estados Unidos ainda exige duas vagas para automóveis por unidade residencial. Quarry Village obteve uma isenção dessa exigência junto às autoridades de Hayward.

Além disso, geralmente não é fácil convencer as pessoas a não terem carros.

"Nos Estados Unidos as pessoas são incrivelmente desconfiadas em relação a qualquer ideia de não possuir carros, ou mesmo de ter menos veículos", diz David Ceaser, co-fundador da CarFree City USA, que afirma que nenhum projeto suburbano do tamanho de Vauban banindo os automóveis teve sucesso nos Estados Unidos.

Na Europa, alguns governos estão pensando em escala nacional. Em 2000, o Reino Unido deu início a uma iniciativa ampla no sentido de reformar o planejamento urbano, desencorajando o uso de carros ao exigir que os novos projetos habitacionais fossem acessíveis por transporte público.

"Os módulos urbanos relativos a empregos, compras, lazer e serviços não devem ser projetados e localizados sob a premissa de que o automóvel representará a única forma realista de acesso para a grande maioria das pessoas", afirma o PPG 13, o documento revolucionário de planejamento, lançado pelo governo britânico em 2001. Dezenas de shopping centers, restaurantes de fast-food e complexos residenciais tiveram a licença recusada com base na nova regulamentação britânica.

Na Alemanha, um país que é a pátria da Mercedes-Benz e da Autobahn, a vida em um local onde a presença do automóvel é reduzida, como Vauban, tem o seu próprio clima diferente. A área é longa e relativamente estreita, de forma que o bonde que segue para Freiburg fica a uma distância relativamente curta a pé a partir de todas as casas. Ao contrário do que ocorre em um subúrbio típico, aqui as lojas, restaurantes, bancos e escolas estão mais espalhadas entre as casas. A maioria dos moradores, como Walter, possui carrinhos que são rebocados pelas bicicletas para fazer compras ou levar as crianças para brincar com os amigos.

Para deslocamentos a lojas como a Ikea ou às colinas de esquiação, as famílias compram carros juntas ou usam automóveis arrendados comunitariamente pelo clube de compartilhamento de automóveis de Vauban.

Walter já morou - com carro privado - em Freiburg e nos Estados Unidos.

"Se você tiver um carro, a tendência é usá-lo", diz ela. "Algumas pessoas mudam-se para cá, mas vão embora logo - elas sentem saudade do carro estacionado em frente à porta".

Vauban, local em que se situava uma base do exército nazista, ficou ocupada pelo exército francês do final da Segunda Guerra Mundial até a reunificação da Alemanha, duas décadas atrás. Como foi projetada para ser uma base militar, a sua planta nunca previu o uso de carros privados: as "ruas" eram passagens estreitas entre as instalações militares.

Os prédios originais foram demolidos há muito tempo. As elegantes casas enfileiradas que os substituíram são construções de quatro ou cinco andares, projetados de forma a reduzir a perda de calor e maximizar a eficiência energética. Elas possuem madeiras exóticas e varandas elaboradas; casas isoladas das outras são proibidas.

Por temperamento, as pessoas que compram casas em Vauban tendem as ser "porquinhos da índia verdes" - de fato, mais da metade dos moradores vota no Partido Verde alemão. Mesmo assim, muitos afirmam que o que os faz morar aqui é a qualidade de vida.

Henk Schulz, um cientista que em uma tarde do mês passado observava os três filhos pequenos caminhando por Vauban, lembra-se com entusiasmo da primeira vez que comprou um carro. Agora, ele diz que está feliz por criar os filhos longe dos automóveis; ele não tem que se preocupar muito com a segurança deles nas ruas.

Nos últimos anos, Vauban tonou-se um nicho comunitário bem conhecido, apesar de não ter gerado muitas imitações na Alemanha. Mas não se sabe se este conceito funcionará na Califórnia.

Mais de cem candidatos se inscreveram para comprar uma casa na Quarry Village, e Lewis ainda está procurando um investimento de US$ 2 milhões para dar início ao projeto.

Mas, caso a ideia não dê certo, a sua proposta alternativa é construir no mesmo local um condomínio no qual o uso do automóvel seja totalmente liberado. Ele se chamaria Village d'Italia.

15 de abril de 2009

13 de março de 2009

Dark was the night

Tá aí uma dica boa pra ouvir. Só artista de primeira. São 2 CDs com Andrew Bird, Antony, Arcade Fire, Beach House, Beirut, Blonde Redhead, Bon Iver, The Books, Buck 65, David Byrne, Cat Power & Dirty Delta Blues, The Decemberists, Aaron Dessner, Bryce Dessner, Devastations, Dirty Projectors, Kevin Drew, Feist, Ben Gibbard, Grizzly Bear, Iron & Wine, Jose Gonzalez, Sharon Jones & The Dap-Kings, Kronos Quartet, Stuart Murdoch, My Brightest Diamond, My Morning Jacket, The National, The New Pornographers, Conor Oberst, Riceboy Sleeps, Serengeti, Dave Sitek, Spoon, Sufjan Stevens, Gillian Welch, Yeasayer e Yo La Tengo.

Dark was the night - A red hot compilation

No site você encontra um widget e dá pra ouvir as faixas. Fica como essa caixa aí embaixo:

3 de março de 2009

Uma linha no horizonte

Conheci o U2 lá por 1988, ouvindo um vinilzinho que veio na finada revista Bizz. A porrinha tinha uma música só. Era "I still haven't found what I'm looking for", do álbum Joshua Tree (o melhor deles, por sinal). Essa era a versão ao vivo, gravada durante a turnê deles em 87/88 e acho que era aquela que foi pro álbum Rattle&Hum em 1989. "Vinilzinho" pq ele era pequeno mesmo e flexível igual uma borracha, sei lá. Podia dobrar que não quebrava. O fato é que eu ouvi tanto, mas tanto, que, mesmo do alto dos meus 11 anos de idade, até aprendi a letra da música, sem saber nada de inglês até então. Talvez tivesse ouvido "Sunday bloody Sunday", "Gloria" ou "I will follow" antes dessa época, mas nunca associei a banda com essas músicas, sei lá. Naquela época, (já) tocavam tanto lixo nas rádios que tive sorte da minha memória musical não ser tão apurada assim. E, convenhamos, colocando as coisas dentro do seu devido contexto histórico: eu tinha um disco dos Menudos. Pior, eu FUI ao show dos Menudos. O U2 foi a primeira banda que me fez ver que existia algo bom, além das FMs.

Em 1990, compramos o primeiro CD player pra casa. Na época, era o ó do borogodó. Dava até medo de mexer. Além do aparelho ser caro e sofisticado (pra época, veja bem), qqer cd custava muito caro, sem contar que só haviam uns poucos títulos disponíveis. Velhos tempos da pré-história da música digital.

Não bastava ter o CD player e não ter CD pra ouvir. Aí lembro que meu irmão mais velho, que já conhecia alguma coisa de música, sugeriu que meu pai comprasse o Joshua Tree. Assim foi, nosso primeiro CD, ever. Daí pra ficar viciado em U2 foi fácil. Coisas como o repeat, não ter problema de sujar a agulha, não ter problema de "pular" e o som cristalino, tornavam a alienação musical muito mais fácil do que com os toca-discos.

Com o passar dos anos e o lançamento de álbuns como o Achtung Baby e Zooropa, só fiquei mais e mais fã da banda. O que podia ser a alienação total e irrestrita se tornou, na verdade, a fonte de novas bandas, estilos e épocas. Todas as outras bandas que tinham, de alguma forma, influenciado a sonoridade do U2, foram as que eu comecei a ouvir. Aí posso incluir Rolling Stones, Bob Dylan, Elvis, Lou Reed, Ramones, The Who, Brian Eno, David Bowie, Talking Heads e Joy Division, entre outras. E cada uma dessas me fez procurar outras e outras, em ramificações muito interessantes, que aprendi a seguir desde então. Mais ainda agora, nos tempos de internet, onde dá pra se descobrir milhões de bandas interessantes que se conectam de alguma forma e que, principalmente, fazem bem aos teus ouvidos.

Voltando ao U2, os álbuns seguintes tiveram altos de baixos, como o Pop (excelente) e os criticados "All that you can't leave behind" e "How to dismatle an atomic bomb", dois medianos. A superexposição do U2 e, em especial, da figura do Bono, como messias do terceiro mundo desgastou um pouco o interesse que eu tinha pela banda. E eu tinha MUITO interesse em tudo que eles faziam. Singles, participações com outros artistas, shows, bootlegs... O que eu encontrava sobre a banda entrava pra minha playlist. Mas chega uma hora que satura. Cansa. Vira vala comum. Me afastei do U2 e segui ouvindo mais coisas novas nos últimos anos, quase que esquecendo de vez a obra deles, ao menos por um tempo.



Aí aconteceu. Sem que eu tivesse a menor expectativa de como seria o novo álbum, "No line on the horizon", tive uma grata surpresa ao ouví-lo. Músicas fodas, no melhor estilo U2, principalmente pela participação do Brian Eno e Daniel Lanois, os mesmos que fizeram do U2 o que o U2 é hoje. Os mesmos que produziram o "Unforgettable Fire", "Joshua Tree" e "Achtung Baby". Até o novo do Coldplay, que eu acho o melhor de quatro álbuns lançados por eles, foi o Brian Eno que produziu. Resumindo, onde tem Brian Eno, tem música boa.

Compre o álbum novo, sem pestanejar. As faixas que serão lembradas por um bom tempo são "Unknown caller", "Moment of surrender", "I'll go crazy if I don't go crazy tonight" e a própria "No line on the horizon".

Sou suspeito pra falar da banda mas vejo um linha no horizonte pra eles sim. A capacidade que eles tem pra fazer música boa, mesmo que de tempos em tempos, não é de se desprezar. Eles não são a banda que são à toa.

Ou talvez seja só eu que sou alienado.

9 de fevereiro de 2009

E falando sobre o Che...

Só pra complementar o post anterior:



Que beleza!! O Benicio del Toro nem se deu ao trabalho de ler alguma coisinha sobre a história pra fazer o filme. Esse é o tipo do cara que usa camiseta do Che...

28 de janeiro de 2009

Acordem, crianças

Na próxima vez em que você vir alguém usando aquela camisetinha velha e surrada com a foto do Che Guevara, pense sobre a personalidade do cara que a veste. Tudo bem que, na maioria das vezes, quem usa essa camiseta não faz a menor idéia de quem seja essa figura. Se fosse um símbolo pop, tudo bem. Mas existem imbecis que realmente acreditam que o tal Che foi um salvador, um Robin Hood, um messias da justiça social e carregam essa camiseta como forma de mostrar sua revolta (?), indignação "contra tudo isso que tá aí" e que são "contra o sistema". Realmente a ignorância se mostra infinita. E, como que por acaso, esse mesmo tipo de gente é o que participa do Fórum Social Mundial.

Se ao menos 1% desses dementes pudessem assistir o vídeo abaixo, o mundo já seria um lugar melhor. Não tem tudo o que você precisa saber sobre Che, o comunismo ou a esquerda, mas são 10 minutos em que o economista Rodrigo Constantino resume muito bem a incoerência e a irracionalidade do pensamento esquerdista. Assista, vai por mim. Serão os 10 minutos mais bem gastos do seu dia.



Eu quero uma camiseta igual a dele!

E, pra concluir, uma boa do Friedman:

22 de janeiro de 2009

Me very happy

29 de dezembro de 2008

Churrasquinho entre amigos

Parte 1



Parte 2


Parte 3

Última entevista do Sagan

Richard Dawkins

Haja saco



Essa Mallu já é chata. Imagina quando começar a menstruar.

Tudo bem que, perto do Jô, qualquer um parece menos chato.

22 de dezembro de 2008

As maravilhas do Natal

Presente de Natal é um saco: pra quem dá e pra quem recebe. Em mais um episódio de auto-flagelo, lá fui eu na peregrinação anual da classe média aos shoppings em busca de um "presentinho" de Natal, "só pra dar uma lembrancinha". Porra, se é só uma lembrancinha, liga pra pessoa e deseja feliz natal, oras. Se quer dar um presente útil, dê em dinheiro. O presenteado vai saber escolher muito melhor que você, acredite em mim. Ou você acha que aquele sorriso amarelo que eles dão são porque realmente gostaram do que você deu? Se nem você sabe comprar uma roupa que fica legal em você, por que seria fácil comprar uma merda qualquer que o outro iria "amar"? Mesmo assim, a falsidade na hora de receber os presentes é a mesma de sempre: "Amei!", "É a minha cara!", "Acredita que quase comprei exatamente essa blusinha pra mim semana passada?". Dê qualquer lixo de presente, de cores sortidas, em embalagens das mais bregas as mais cafonas, Boticário, Avon etc. Neguinho vai agradecer muito.

Aproveitando o tema, esse ano eu reparei numa coisa interessante que queria saber se sou só eu que notei isso. Milhões de pessoas compram os bons e velhos produtos do Boticário. Perfumes, cremes, sabonetes, etc. "Gostosinho", "cheirosinho", "cremosinho" e outros "inhos"... Isso todo mundo acha e até eu concordo. São produtos bem razoáveis, nada contra a marca. Aposto, inclusive, que alguém na sua família vai dar ou receber um. Esses caras sabem ganhar dinheiro. O engraçado é que niguém compra essas coisas pra si mesmo. Só dão de presente, pode reparar. Caráleo, se é tão bom assim, por que não compra pra vc mesmo? Se gostam tanto assim, por que só dão pros outros? Vai entender.

Já os produtos da Avon usam outra lógica. Sejamos honestos: neguinho só compra Avon pra ajudar o amigo que perdeu o emprego e tá precisando de um faz-me-rir. Ou a prima que precisa "complementar a renda". Até aí, beleza, nada de errado. Tem que se virar mesmo, é a vida, tal e coisa... Mas ninguém me convence de que compra Avon porque gosta. Compra mesmo é pra agradar o outro. É a mesma lógica de comprar Mentex no semáforo: tem só a função social. Ou vai me dizer que Mentex é gostoso?

Humor negro

Um velório é a chance que temos de colocarmos em prática todas aquelas piadas de humor negro e gosto duvidoso. Rir da morte ainda é o melhor remédio pra agüentarmos o tranco de uma perda.

Depois de muitos anos que não ia em um velório, fui com meus pais pela morte de um primo da minha avó. No caminho, ainda no carro, participei dessa conversa:

Meu pai:
- Eu não queria ir, filho, acho tudo isso um pé no saco. Mas no fim sua mãe me convenceu que a gente tinha que vir.

Eu, curioso, perguntei:
- Porra, mãe... Que argumento vc usou?!?

Minha mãe:
- Mas é claro que tínhamos que ir, filho. A tia fulana (a viúva) sempre foi tão prestativa nessas situações, vamos dar uma força pra ela. Lembra quando morreu a Beltrana? Foi ela quem providenciou todo o velório e enterro. Quando morreu o Ciclano, pagou todas as flores que foi uma beleza. Já quando morreu a Vó Fulaninha, foi ela quem comprou o caixão e o escambau.... E hoje, ela que organizou todo o funeral do falecido. Admiro muito! Uma pessoa sempre disposta a ajudar nas horas difíceis. Acho que isso significa alguma coisa, não é, pai?

Meu pai:
- Sim, significa que ela podia abrir uma funerária.

6 de outubro de 2008

O fim do pretinho básico

Até não muito tempo atrás, nome de cor era preto, branco, azul, vermelho, amarelo e verde. Tão tosco quanto simples mas, convenhamos, isso é tão década de 90. "Preto" agora é "black piano". A mistura do politicamente correto + marketing barato simplesmente baniu a cor preta do mercado.

Para facilitar a vida de toda a população angustiada com a mudança dos nomes das cores de produtos nesse mercado suuuper moderno, antenado, seguindo uma tendência e, tipo assim, inovador, sabe assim, uma coisa mais despojada, segue abaixo o guia de referência do preto para você não se confundir na hora da compra:



Mundinho estranho esse.

Ah, a democracia

Li uma vez não sei onde que esse papo de que o povo dá o "recado das urnas" é uma bobagem sem tamanho. Como se o voto do povo apontasse alguma tendência de insatisfação ou revolta por toda essa merda que tá aí. Esquece.

- Netinho da Paula - Vereador - São Paulo - SP
- Aurélio Miguel - Vereador - São Paulo - SP
- Tulio Maravilha - Vereador - Goiânia - GO
- Agnaldo Timóteo - Vereador - São Paulo - SP

E o recado das urnas em 2008 é esse mesmo: o povo quer mais é que se foda.

25 de setembro de 2008

Zeitgeist

Depois do índice de popularidade do Lula chegar a 80%, o filme Zeitgeist é a segunda coisa que mais nos faz pensar sobre como as pessoas gostam de acreditar em fábulas. O filme vai ser lançado agora em outubro e não faço a menor idéia se entrará em cartaz no Brasil. Who cares? A internet resolve isso pra gente. Se vc tiver saco, assista a primeira parte (meia hora mais ou menos). Nem perca tempo com o resto do filme (parte 2 em diante). É só um Michael Moore piorado.



Sempre defendi que religião não se discute. Afinal, acreditar nisso ou naquilo é um direito que todos têm e é um pé-no-saco querer empurrar tudo aquilo que você acredita goela abaixo dos outros. Sempre imaginei que a discussão não deveria ser entre qual religião é "melhor" ou "pior", mais ou menos radical e outras bobagens, mesmo porque já ouvi tanta imbecilidade em conversas desse tipo que não tenho saco nem para relatá-las aqui nesse nobilíssimo espaço. A discussão realmente interessante e muito menos popular é aquela sobre a necessidade de religião, ou seja, por que diabos alguém tem que ter religião?

Tecnologia do pato

O bom e velho pato é o exemplo daquilo que se propõe a fazer muita coisa mas no fundo não faz nenhuma bem feita. Na água, o pato nada pior que um peixe. No ar, voa pior que um pardal. Na terra, anda pior que uma galinha e, no prato, tem sabor pior que o do frango. Que beleza!

Mesmo assim, parece que nos últimos tempos não há deficiência que o bom marketing não supere. E haja classe média fazendo fila pra comprar...

3 de setembro de 2008

Imbecilmente correto

Pra quê escrever se tem alguém que escreve exatamente aquilo que você pensa e com muito mais clareza que você? Esses dois post são excelentes. Leiam que vale a pena.

O primeiro é O crucifixo e a nudez do Rodrigo Constantino, sobre a Carol Castro, crucifixo, Playboy e a Igreja Católica.

O outro é Ser normal é muito chato do Doni, sobre o pé no saco que é essa onda do politicamente correto.

Isso me fez lembrar uma propaganda de carro que dizia que "se você também tem um cabeça diferente, deve dirigir o mesmo carro que eu". Traduzindo: "se você é um imbecil sem personalidade e sem visão crítica, vai comprar um carro super diferente pra ficar igual a todo mundo". É a escolha mais fácil porque aí você não corre o risco de errar, de ser taxado como anormal. Todo mundo tem, tá na TV, é normal, é bem aceito. Ó que belezinha:

26 de agosto de 2008

Eleições no quarto mundo

A época das eleições é a que mais me faz lembrar o quanto vivemos num paisinho bunda com povinho idem.

De um lado, eleitores de altíssimo nível, capazes de eleger absurdos como esses aqui. O máximo de envolvimento político da classe média é mandar spam com a lista de nomes ridículos (ok, aqui vai minha colaboração). E depois que esses idiotas são eleitos ninguém se conforma e diz que "político é tudo ladrão". No fundo, ninguém leva a política a sério, nem os candidatos nem os eleitores. Tudo bem, o país também não é.



De outro lado, os candidatos com os mais variados nomes, slogans, naipes e cortes de cabelo. A intenção é sempre a mesma: atender interesses próprios. Seja em nome do bairro, da comunidade, da igreja, da ONG ou da loja maçônica, vale tudo pra ganhar um punhado de votos. Tudo é tão óbvio, tão tosco e tão ridículo, que chega a ser triste. Existe um padrão na conversa mole de todos, que vai mais ou menos por esse caminho aqui:

"Vou lutar pela [saúde/educação/segurança/habitação/transportepúblico/esporte/lazer/portadoresdenecessidadesespeciais/meioambiente/qualidadedevida/etc] e conto com o seu voto. Vote [Zezão/Pedrão/Tonhão/Chicão/Vavá] do/a [centrodesaúde/prefeitura/cachorrão/locadora/lavarápido/feiralivre/padaria/puteiro/necrotério]!"

Despreparo, ignorância, politicagem, troca de favores e mais uma caralhada de motivos pra você odiar sua cidade. Dá até orgulho. Neguinho parece que tá de sacanagem, tirando onda da sua cara. Porra, acham que todo eleitor é imbecil. Ok, uma boa parte é. Vote em branco, meu amigo.

Todos os raríssimos casos de sucesso em prefeituras (como os de Maceió e do Rio, por exemplo) tiveram como origem a gestão e profissionalização de tudo que as cercam. As iniciativas são poucas, como o Movimento Brasil Competitivo, mas já é um começo. Sempre me perguntei porque prefeituras e câmaras de vereadores não eram compostas por técnicos e administradores (pelo menos nas funções essenciais) ao invés de ficar na mão desses políticos de merda. O único plaejamento que eles sabem fazer é aquele pra tentar a reeleição. Porque não modernizar a administração pública? Se a câmara da sua cidade fosse uma empresa privada que vive num mercado competitivo e busca resultado, haveria espaço pra votação de nome de rua ou cerimômia de título de cidadão emérito?

Mas fique tranqüilo: já disseram uma vez que o Brasil não corre o menor risco de dar certo. Nem fodendo.

21 de agosto de 2008

Um carro a menos

Bons tempos em que fazia trilhas de bike todo fim de semana com os amigos (Light, Trilha do Túnel em Brigadeiro Tobias). Dar um pulinho até Piracicaba (200km ida e volta) parecia brincadeira. Depois dos 18 anos, você tira carta e quer mais é que a bike se foda. O carro é mais confortável, claro. E uma vez que você perde o hábito de pedalar, fica difícil voltar.



Aí o tempo passa, sua cidade cresce, o trânsito fica um lixo e você se vê dirigindo casa-trabalho-casa todos os dias e não se dá conta que trabalha a 1.8km de casa e que leva 15 (quinze) minutos pra fazer esse trajeto nos horários de pico. Sim, e em linha plana. De bike levo 4 minutos, sem contar o prazer do exercício.

Tava enrolando muito pra fazer essa mudança mas no fim deu certo. Comprei uma nova (o quadro da Trek antiga ficou pequeno) e depois de 12 anos, voltei a pedalar e tô gostando pra caralho. A Gary Fisher é uma delícia de bike. Agora haja grana pra fazer uns upgrades nos componentes.

E você? Já considerou a possibilidade de trocar o carro pela bike, nem que seja só uma ou outra vez por semana? Vale a pena. O esforço é só no começo, pra sair da inércia. Depois você se acostuma e pedalar vira uma (boa) rotina.

Faça as contas das vantagens em trocar o carro pela bike:



Sugestões práticas:
  • Compre uma bike boa (Trek, Scott, Specialized, Kona, GT, Gary Fisher, na faixa de R$ 1.500,00 pra cima; não economize)
  • Comece pedalando pequenos trajetos pra se ambientar e entrar em forma aos poucos
  • Se não gosta de ir sozinho, procure amigos pra pedalar junto (você tem amigos que pedalam, mas não sabe)
Pra saber mais: